Entrevista com Carl De Visser


in English

«dreamwithboardgames»
«Carl De Visser»

Como nasceu a ideia que levou à criação do “Endeavor”?
A parte mais importante da ideia surgiu da colaboração com o Jarrat. Ambos já tínhamos andado por aí na criação de jogos, mas desde que começámos a trabalhar juntos a coisa tem resultado muito bem. A ideia inicial começou por mim. Quando decidimos trabalhar juntos, mencionei a ideia de que eu gostava, mas que pouco havia conseguido desenvolver. Não sobrou muito da ideia original para além das regiões separadas.

Onde é que vai buscar as ideias para os seus jogos? Começa pela mecânica ou pelo tema?
Ter ideias nunca foi problema. Tenho mais ideias que capacidade para saber o que fazer com todas elas. Comigo é quase sempre o tema que aparece primeiro. Isso dá-me um esboço inicial das regras. Gostaria de criar em abstracto, qualquer coisa do género dos jogos de Kris Burn, sem tema, mas ainda não consegui criar um jogo completo sem qualquer tema que permita estabelecer um conjunto inicial de regras.

Em que tipo de mecânica prefere focar o processo de desenvolvimento dos seus jogos?
Gosto da maneira de como diferentes mecânicas podem interagir, pelo que a minha resposta seria a interligação de várias mecânicas. Com o Endeavor, Jarratt e eu tivemos muitas discussões sobre como alterar as mecânicas do jogo. Penso que discutimos cerca de uma hora antes de fazer as alterações que eram necessárias. Seleccionaram-se as mecânicas essências e modificámos tudo o resto (o controlo das fichas e as faixas) e seleccionámos os elementos mais dependentes desse núcleo essencial. De seguida trabalhámos nos elementos mais periféricos para conseguir as alterações pretendidas.

Quando é que se apercebeu que criar jogos era o seu sonho?
Muito cedo. Cresci numa casa de jogos, qualquer jogo me fascinava. Quando tinha 10 anos, descobri os chamados “jogos de interpretação”, onde a criação é a base do jogo.

Que nível de sorte considera aceitável nos seus jogos?
Nos jogos a sorte funciona melhor que noutros. Gosto de jogos sem “sorte”, tais como os jogos 18xx e os abstractos. Jogos sem componente de sorte são mais puros. Contudo, se o elemento sorte encaixar bem no jogo, não me importo. Gosto, por exemplo, de jogos como o Nexus Ops, onde a sorte está por todo o lado, mas tal funciona muito bem neste jogo.

Em quantos jogos trabalha ao mesmo tempo? Trabalha em vários projectos em simultâneo ou dedica-se apenas a um único?
Tenho muitas ideias e muitos jogos parcialmente prontos. Tenho tendência a não ser muito organizado na criação de jogos. Trabalhar no Endeavor ajudou-me muito a descobrir os vários passos que a criação envolve. Jarratt e eu trabalhamos nas nossas próprias criações. Mas gostaríamos de poder vir a trabalhar em projectos conjuntos com outros.

O que é que pode dizer sobre o projecto em que trabalha actualmente? Pode revelar alguns detalhes do jogo em si?
Grande parte das coisas em que estava a trabalhar estão paradas neste momento, pois estou a fazer um curso online de criação de jogos dirigido por Ian Schreiber (http://gamedesignconcepts.wordpress.com/). Está a ser muito interessante e a conseguir melhorar os meus índices criativos.

Com que frequência joga ou testa um jogo antes da publicação?
Bom, o único que consegui publicar até agora foi o Endeavor, que foi testado muitas, muitas vezes. Gostaria de ter tido a oportunidade de ter feito mais testes com diferentes jogadores. Existe a tendência de testar os jogos sempre com o mesmo conjunto de pessoas, apenas com alguns testes em branco. Penso que mais testes teriam valido a pena, mas também não sei quando os jogos de testes seriam suficientes.
Qual o jogo que levou mais tempo a desenvolver q qual o teve mais alterações?
Diria o Endeavor.

Como se define a si próprio enquanto criador de jogos?
Gostaria de ser um criador profissional, mas terei que esforçar-me mais antes que isso possa ser uma realidade. Actualmente, poderia definir-me como um criador quase publicado.

A sua família e amigos participam na sua aventura de criação de um novo jogo?
Muitos dos meus amigos jogam jogos. No entanto, quando estou com eles, gosto mais de jogar jogos acabados de lançar que jogos em teste. Os meus filhos ainda são muito pequenos, 3 e 6 anos, pelo que ainda não são os mais indicados para testar jogos. No entanto, o mais velho já começou a criar os seus próprios jogos. O seu mais recente chama-se "Tiger Eats the Numbers". É uma espécie de guerra onde as cartas mais altas ganham, com excepção das cartas «Tigre» que colocam qualquer outra fora de jogo.

O desenvolvimento de um jogo envolve várias fases – criação, edição, testes e publicação – qual é a que mais lhe agrada? Porquê?
Gosto de elaborar as regras e fazer alterações que modifiquem totalmente o jogo de cada vez que o jogamos. É um trabalho que fica cada vez mais difícil à medida que o jogo vai tomando a forma final, sendo que as alterações vão sendo cada vez mais pequenas também. Nessa altura tento desmontar o jogo, tentando encontrar estratégias de destruição.

Joga apenas de vez em quando ou os jogos são parte integrante do seu quotidiano?
São parte da minha vida, mas este ano tenho andado muito ocupado, pelo que tive muito menos disponibilidade para jogos de tabuleiro. Quando jogo menos em tabuleiro, os jogos de computador tomam o seu lugar na ocupação do meu tempo livre.

Com que frequência joga os seus jogos depois de serem publicados? Prefere jogar os seus ou os jogos de outros criadores?

O Endeavor ainda não foi publicado, mas desde que ficou pronto pouco o tenho jogado, apenas o tenho feito em demonstrações. É duro jogá-lo agora, pois já não posso fazer qualquer modificação.

Qual o jogo que mais gosta de jogar? Porquê?
Qual o seu jogo favorito?
Puerto Rico foi o meu favorito durante muito tempo. É um jogo compulsivo, tanto pelo ritmo como pela forma como as diferentes estratégias interagem. Desde que foi lançado, creio que mais nenhum jogo conseguiu sequer aproximar-se do seu nível. Relativamente aos jogos mais recentes, os que mais me impressionaram foram o “Imperial”, o “In the Year of the Dragon” e o “ Race for the Galaxy”. Impressionou-me também a 4ª Edição dos jogos tradicionais da D&D, sobretudo o “Go and Bridge”. No computador, ocupo o meu tempo com jogos RTS e RPG.

E qual o tipo de jogo que mais gosta?
Da resposta anterior, poderão concluir que jogo uma grande variedade de jogos. Jogos sobre Civilização serão, talvez, o meu tipo favorito.

Que prefere: jogar ou criar jogos?
Criar. Mas é uma preferência quase empatada com o jogar.

Vai apresentar o “Endeavor” em Essen?
Endeavor deveria ser apresentada em Essen, mas, infelizmente, nem eu, nem Jarratt, estaremos lá. Tentarei tudo para que isso aconteça no próximo ano.

Acha que as vendas são o factor determinante para que um jogo seja bom ou não?
Se o for, não será, certamente, uma relação estritamente linear.

Segue, com especial atenção, algum criador de jogos?
Qualquer novidade de Martin Wallace interessa-me sempre. Outros criadores favoritos são Reiner Knizia, Wolfgang Kramer e Rudiger Dorn.

Será que os jogos de tabuleiro podem ser usados para fins educativos?
Claro que sim, mas prefiro jogo pelo jogo.

Tem outro emprego, ou é um criador de jogos a tempo inteiro?
Sou Engenheiro de Sistemas a trabalhar no que se costuma designar por integração de sistemas. Isto envolve sistemas informáticos, tentando conseguir que os programas das pessoas funcionem o melhor possível.

Que pensa da actual crise económica? Irá afectar a venda de jogos?
Não estou seguro do efeito, poderá prejudicar numas coisas e ajudar noutras. As pessoas poderão ter menos dinheiro para jogos, mas, por outro lado, os jogos poderão ser alternativa a coisas mais caras. Suspeito, isso sim, que as editoras irão correr menos riscos agora.

Que conhece de Portugal? Já esteve em Portugal?
Grande parte do que sei sobre Portugal aprendi quando estudei história na universidade. Sei pouco sobre o Portugal actual.

Muito obrigado pela entrevista.
Obrigado eu pelo interesse.


dreamwithboardgames
EndeavorEnglish Rules
Carl De Visser Site
Carl De Visser BGG



A tradução desta entrevista teve o patrocínio de:



1 comentário:

Anónimo disse...

Tá mt fixe!