Entrevista com Jeffrey D. Allers


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Como nasceu a ideia que levou à criação do “Alea Iacta Est”e “Eine Frage der Ähre”?
Alea Iacta Est: começou com uma competição de criadores para um jogo de dados de dois jogadores. Desafiei o meu amigo Bernd Eisenstein para competir comigo e testámos algumas ideias juntos. Mais tarde, decidi usar o meu jogo como base para um jogo de tabuleiro, inicialmente chamado “Feudal Dice”. Apresentei-o a diversas editoras e a Stefan Brueck da Alea em Nuremberga. Ele quis publicá-lo, mas pediu-me algumas alterações importantes que testamos juntos. Como nessa altura estava nos EUA (e ia ficar alguns meses), decidi pedir ajuda a Bernd para o desenvolvimento, como co-criador, uma vez que ele já tinha testado e contribuído para o jogo no seu início. Ele conseguiu reunir-se com Stefan e aportar uma nova perspectiva e a sua própria criatividade. Nós já tínhamos trabalhado juntos anteriormente em projectos nunca publicados, pelo que estava certo que trabalharíamos muito bem juntos. É excitante ter finalmente algo publicado em conjunto.

Eine Frage der Ähre: Vendo a minha casa, no centro oeste dos Estados Unidos, de um avião, os campos, geometricamente perfeitos de 1 milha quadrada, com diferentes plantas, parecem um jogo de tabuleiro. Desenvolvi, então, um jogo à volta da colocação de peças com as diferentes plantas, adicionando peças tridimensionais para simular a rotação das plantas e acrescentando uma outra dimensão com a colocação de sons e ganhando pontos de pecuária. Mostrei o jogo no encontro anual de criadores - Game Designer’s Meeting - em Goettingen e algumas editoras ficaram logo interessadas, com a Pegasus a oferecer-me o meu primeiro contrato para um jogo. Alguns detalhes de produção e o meu desejo de afinar o jogo atrasaram o lançamento até este ano.

Alea Iacta Est” foi um jogo criado em conjunto com mais alguém. Como é trabalhar com outra pessoa na criação de um jogo? Quais as vantagens e desvantagens?
Duas cabeças são melhores que uma, se se souber trabalhar em conjunto. Nem sempre é fácil, pois cada criador gosta de ter a sua liberdade criativa, mas, ao mesmo tempo, precisa do contributo de mais alguém para levar o desenvolvimento mais além. Quando se consegue encontrar esse equilíbrio com outro criador, o trabalho em conjunto torna-se muito divertido. Talvez seja por isso que algumas parelhas de criadores se mantêm juntas em múltiplos jogos.

Onde é que vai buscar as ideias para os seus jogos? Começa pela mecânica ou pelo tema?
Depende. Sou uma pessoa focada no visual, pelo que, normalmente, o tema vem primeiro. Agora que já jogo e crio jogos há alguns anos, também me encantam algumas mecânicas de outros jogos, pelo que, muitas vezes, quero levá-las mais além ou até conseguir chegar à exclusiva “mecânica original”.

Que nível de sorte considera aceitável nos seus jogos?
Gosto de um bom equilíbrio entre estratégia e sorte. Não gosto de jogos que dependam inteiramente da sorte, tento criar jogos em que se possa mitigar a má sorte (ou a boa sorte dos adversários) com um jogo inteligente.

Em quantos jogos trabalha ao mesmo tempo? Trabalha em vários projectos em simultâneo ou dedica-se apenas a um único?

No que concerne à criação de jogos, penso que tenho a “Anomalia de Concentração Deficitária”. Passo o tempo todo a ter ideias, quando tenho tempo escrevo-as num papel e, mais tarde, desenvolvo algumas. Actualmente, tenho muito menos tempo, sobretudo agora que sou pai de gémeos. Por isso, tento centrar-me em menos de meia dúzia de protótipos para levar para o meu grupo de testes. Claro que, se uma editora estiver interessada num protótipo em particular, concentro toda a minha energia no desenvolvimento dessa ideia. No último ano trabalhei sobretudo nos quatro jogos que foram lançados nos últimos 6 meses. Só agora tenho algum tempo para trabalhar em novos projectos.

O que é que pode dizer sobre o projecto em que trabalha actualmente? Pode revelar alguns detalhes do jogo em si?
Estou ainda a trabalhar no meu jogo “mais pesado” sobre a história da fundação da Nova Amesterdão (que mais tarde se tornou Nova Iorque) pela Dutch West India Company. Ao mesmo tempo, estou também a trabalhar num jogo muito mais leve de destreza/dados que inclui mais elementos tácticos que a maioria dos jogos de destreza. O meu filho de dois anos gosta de brincar com a s peças e é o único jogador-teste à data para esse jogo. É agradável trabalhar nos dois lados oposto do espectro. Gosto da variedade (ou simplesmente tenho A.C.D. :-) ).

A sua família e amigos participam na sua aventura de criação de um novo jogo?
A minha mulher é uma jogadora social, contribuindo com algumas apreciações que não consigo obter dos jogadores “mais duros”. Tenho amigos que testam os jogos, todos em diferentes níveis, uns mais sociais, outros que são eles próprios criadores (como o Bernd, o Peer Sylvester, o Guenter Cornett e o Hartmut Kommerell). Todos fazem parte do processo de criação dum jogo, pelo que se poderá considerar um autêntico “grupo de projecto”.

O desenvolvimento de um jogo envolve várias fases – criação, edição, testes e publicação – qual é a que mais lhe agrada? Porquê?
Gosto principalmente das primeiras fases da criação do jogo, quando as ideias e as mecânicas parecem muito pobres e agarro nelas e faço a primeiro rascunho. Afinar e colocar o jogo pronto para um teste é também muito gratificante. A pequena afinação no final do processo é que dá mais trabalho, mas gosto do contacto com as editoras.

Com que frequência joga ou testa um jogo antes da publicação?
Depende da complexidade. Devo dizer que não consigo olhar, durante uns tempos, para um jogo acabado de lançar, pois já o joguei demasiadas vezes.

Qual o jogo que levou mais tempo a desenvolver e qual o que teve mais alterações?
O jogo de cartas “Circus Maximus” foi uma das minhas primeiras ideias e modifiquei-o muitas vezes ao longo dos anos, antes sequer de ser testado pelo meu grupo. Também o transformei de um jogo de tabuleiro para um puro jogo de cartas, o que me ajudou a concentrar-me no seu desenvolvimento e a afiná-lo.

As editoras desenvolvem e alteram os originais que entrega? Fica sempre satisfeito com os desenvolvimentos introduzidos?
Conseguem trazer novas ideias e visões para o jogo, incluindo o conhecimento de como produzi-lo de forma rentável. Normalmente confio no seu julgamento, uma vez que são eles que estão a investir o seu dinheiro no jogo, mas não tenho medo de apresentar a minha opinião. É fácil e divertido trabalhar com as editoras, gosto do processo e estou feliz com os resultados.

Como é que a internet afectou a criação dos seus jogos? Lê os comentários on-line sobre os seus jogos?
Sim, gosto dos comentários das pessoas que jogam os meus jogos. Não tenho a certeza se isso afectará a criação seguinte, pois farei sempre o que for divertido para mim criar e jogar.

Que pensa sobre jogar jogos de tabuleiro on-line?
Acho que é fantástico, se tiveres tempo. Eu não tenho, pelo que nunca tive oportunidade de o fazer. Prefiro, no entanto, jogar cara-a-cara com amigos.

Com que frequência joga os seus jogos depois de serem publicados?
Muitas vezes. Como toda a gente que conheço, quero ganhar “o meu jogo”

Prefere jogar os seus ou os jogos de outros criadores?
Gosto de jogar a maioria dos jogos, mas como aprecio bastante o processo de criação, jogar protótipos (meus e de outros) ocupa, pelo menos, metade do meu tempo.

Joga apenas de vez em quando ou os jogos são parte integrante do seu quotidiano?
Normalmente tenho a oportunidade de jogar 1 ou 2 vezes por semana, às vezes mais.

Qual o jogo que mais gosta de jogar? Porquê?
Há demasiados jogos de que gosto, pelo que nunca tenho tempo para os jogar tão frequentemente como desejaria. Gosto de variar, pelo que é impossível apontar um favorito.

Acha que as vendas são o factor determinante para que um jogo seja bom ou não?
Não necessariamente. Pode ser um indicador, mas considero que um bom jogo não tem que ser necessariamente um jogo das “massas”. A minha audiência é predominantemente composta por apaixonados e famílias no mercado alemão. O que as editoras alemãs consideram um sucesso de vendas é muito diferente do conceito de uma grande empresa como a Hasbro.

Quando é que se apercebeu que criar jogos era o seu sonho?
Quando gosto de fazer alguma coisa, não demora muito até que queira criá-la eu próprio. Por exemplo, já li tantos livros de histórias aos meus filhos, que já tenho algumas ideias para histórias para crianças que quero publicar. Quando descobri os jogos alemães, não demorou muito até que começasse a ter as minhas próprias ideias.

Tem outro emprego, ou é um criador de jogos a tempo inteiro?
Sou co-director de um centro comunitário cristão que desenvolve programas para crianças, jovens e famílias. Antes disso trabalhei como arquitecto em Berlim e nos Estados Unidos.
Segue, com especial atenção, algum criador de jogos?
Gosto de admirar os “estilos” dos diferentes criadores. Inspira-me o estilo de Alan Moon, em particular, apesar que não tem sido muito produtivo desde o sucesso do Ticket to Ride.

Segue, com especial atenção, algum criador de jogos?
Certamente que sim.

Que pensa da actual crise económica? Irá afectar a venda de jogos?
È difícil de avaliar, mas gostarei sempre da criação de jogos, independentemente do número de jogos que possa vender.

Que conhece de Portugal? Já esteve em Portugal? Os jogos “Age of Empires III” e “Goa” retratam tempos gloriosos de Portugal, será que a História de Portugal poderá a vir a ser o tema de um dos seus jogos?
Nunca estive em Portugal, mas gostaria muito de poder lá ir um dia. A história é também muito fascinante para mim, pelo que gostaria de criar um jogo inspirado nela.

Muito obrigado pela entrevista.

Eu é que agradeço o interesse pelos meus jogos. Espero que gostem tanto de os jogar, como eu de os criar.

Para mais informação sobre os meus jogos e os jogos do meu grupo de criadores em Berlim, podem consultar o meu blog: Berlin Game Design

Também escrevo artigos para o Boardgamenews.com sobre a minha vida de jogador americano em Berlim, chamo-lhes Postais de Berlim.

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Eine Frage der Ähre

A tradução desta entrevista teve o patrocínio de:



2 comentários:

Anónimo disse...

Muito boa a entrevista, parabéns.

Aproveito pra informar que alterei o nome do meu blog para www.alpendreludico.blogspot.com

Antes era o Jogo no Alpendre

abraço

dreamwithboardgames disse...

Obrigado Edu.

Já actualizei os dados do teu blog.

Abraço