Entrevista com o Gil d'Orey




Como nasceu a ideia que levou à criação do “Vintage”?
O VINTAGE insere-se numa lógica da MESAboardgames de procurar temas originais portugueses. Identificamos vários temas portugueses que seriam passíveis de ser exportados. Isto é, que tivessem relevância suficiente para criarem interesse no mercado internacional. O Vinho do Porto (produto único a nível mundial) e o vale do Douro (património da Humanidade) pareceu-nos uma escolha óbvia. Assim começamos a “fermentar” a ideia do VINTAGE. Já lá vão quase 2 anos...



O que pode dizer sobre a história da evolução do jogo desde os primeiros esboços até ao produto final?
Foi uma maturação e evolução normais num jogo desta natureza :-)
Muitas e muitas semanas de trabalho, centenas de alterações, contributos de jogadores. Mas a base que pretendíamos para o jogo esteve sempre presente. As sub-regiões, as principais castas de vinho, o uso do barco Rabelo (que apesar de já não ser usados é um símbolo da região). O jogo evoluiu muito desde a primeira maquete (principalmente na criação / adaptação de mecânicas de jogo), mas o essencial sempre se manteve.



Onde é que vai buscar as ideias para os seus jogos? Começa pela mecânica ou pelo tema?
Vou buscar as minhas ideias para os meus jogos a... tudo! O processo criativo é contínuo, estás sempre atento e a receber informações de todo o lado. E não quero com isto dizer que passo a vida a ver outros jogos...
Começo sempre pelo tema. A mecânica tem de se adaptar ao tema. Se não, inventava uma mecânica e depois era só “colar “ o tema que mais me conviesse. Há muitos jogos assim e não significa que alguns deles são jogos brilhantes. Mas o meu estilo não é esse. Procuro que a mecânica reflicta a realidade /cenário / história que o jogo tem. Este meu método não é pior nem melhor que outros. É apenas a minha maneira de criar jogos :-)




Grande parte dos jogos que cria tem como tema a História de Portugal. Qual a razão por essa opção?
Já respondi na primeira pergunta. Mas na missão da nossa empresa diz o seguinte: “...Sempre que possível, e reflectindo as suas origens, a MesaBoardGames irá focar-se em temas da cultura e história Portuguesas, com o objectivo de as divulgar em todo o Mundo...”
Ao usarmos o que “é nosso” somos originais e genuínos. Assim conseguimos marcar a diferença.
Mas não significa que estamos “amarrados” à História de Portugal. Aceitamos à partida qualquer tema. Ou quase todos. Excluímos qualquer tema que incentive à violência, xenofobia, temas de cariz sexual, etc. Enfim, qualquer tema que não se enquadre na nossa visão do que deve ser um jogo para famílias, onde várias gerações se reúnem à volta de uma mesa. Com este pressuposto em mente, não colocamos limite à nossa imaginação no que diz respeito aos temas.




O desenvolvimento de um jogo envolve várias fases – criação, edição, testes e publicação – qual é a que mais lhe agrada? Porquê?
Todas. A nossa empresa não é apenas uma pessoa que tem uma ideia para um jogo. Somos uma equipa (eu, o Tiago Teixeira de Abreu e o Dimitri Dagot) onde o processo de levar um jogo de tabuleiro ao consumidor final não se esvazia ou resume apenas a ter uma ideia para um jogo. Ideias existem muitas... mas editar um jogo tem muito mais coisas do que apenas a ideia. E TODAS as fases fazem parte de um mesmo processo. Uma não pode existir sem as outras, se não, nunca seremos uma editora de jogos de tabuleiro. Podíamos ser apenas criadores, ou apenas produtores ou apenas distribuidores. Por isso gosto de todas as fases, por que cada uma delas representa mais uma etapa no que nos motiva nesta empresa: criar os melhores jogos tabuleiro para toda a família, com orgulho de ser português.




É um criador solitário ou a família e os amigos participam no processo de criação de um novo jogo?
No início do processo sim, mas sempre com a ajuda do Tiago Teixeira de Abreu. Só ele vê/critica e contribui de uma forma decisiva para os projectos que ainda estão numa fase muito, muito verde... às vezes nem sei se podem chamar jogos... são apenas ideias...
Mas se o projecto começa a tomar forma, rapidamente chamamos outras pessoas para nos ajudarem, sejam elas familiares, amigos, conhecidos ou pessoas que se inscreveram como test-players no nosso site, etc. E o contributo deles é decisivo para fazer evoluir uma ideia base de jogo para um jogo com uma mecânica que faça sentido.




Em que tipo de mecânica prefere focar o processo de desenvolvimento dos seus jogos?
Em nenhuma. Recuso-me a “comer só de um tipo de prato”...

Que nível de sorte considera aceitável nos seus jogos?
q.b. - ou seja, quanto baste. A sorte está para um jogo como o sal está para a comida. Nenhuma sorte, fica apenas um jogo muito cerebral, pouco sabor. Muita sorte, fica um jogo onde se enjoa logo, pois não existe qualquer controlo sobre as nossas acções.




Com que frequência joga ou testa um jogo antes da publicação? Quantas vezes jogou ou testou o “Vintage” antes de o publicar?
Jogo com muita frequência os meus jogos antes da publicação. È minha obrigação. Perdi a conta o número de vezes que joguei o VINTAGE...

Qual o jogo que levou mais tempo a desenvolver e qual o que teve mais alterações?
O CARAVELAS e o VINTAGE levaram mais ou menos o mesmo tempo e sofreram muitas alterações (mais ou menos 8 meses). Outros jogos nossos mais simples, o Troféu de S. Jorge, LIXO? e o AGUA (este dois últimos vamos lançar em Outubro), por serem jogos mais simples, exigem menos tempo de trabalho.




Em quantos jogos trabalha ao mesmo tempo? Trabalha em vários projectos em simultâneo ou dedica-se apenas a um?
Prefiro trabalhar apenas num. Mas já cheguei a trabalhar em 3 projectos em simultâneo.

Pode dizer alguma coisa sobre o projecto em que trabalha actualmente?
Não... o segredo é a alma do negócio :-)

Com que frequência joga os seus jogos depois de serem publicados? Prefere jogar os seus ou os jogos de outros criadores?
Depois de ter jogador um “cento” de vezes os meus jogos antes de serem publicados, prefiro, quando tenho tempo, conhecer outros autores.

Quando é que se apercebeu que criar jogos era o seu sonho?
A 9 de Dezembro de 1967, às 12h20m.

Como se define a si próprio como criador de jogos?
Aprendiz.




Joga apenas de vez em quando ou os jogos são parte integrante do seu quotidiano?
Tendo em conta que passo 24h por dia a pensar em jogos de tabuleiro, acho que posso dizer que eles fazem parte da minha vida. Mas nem sempre é a jogar...

Qual o jogo que mais gosta de jogar? Porquê? Qual o seu jogo favorito?
Não tenho nenhum jogo preferido. Se bem, quando estou a jogar um jogo que me deixa espantado, divertido, feliz, original, brilhante, nessa altura... esse é o meu jogo preferido. Até ao próximo jogo :-)

Qual o tipo de jogo que mais gosta?
Dos bons jogos. Sejam eles quais forem, fáceis, difíceis, com mais sorte, com menos sorte, curtinhos, longos, mais infantis, para mais crescidos...

Que prefere: jogar ou criar jogos?
Criar. É a minha profissão :-)

Segue, com especial atenção, algum criador de jogos?
Não.




A associação com marcas e/ou produtos como aconteceu com o “Vintage” foi uma situação esporádica ou será uma forma de financiamento para a produção dos jogos de tabuleiro da Mesaboardgames?
É uma forma desejável de conseguirmos alavancar o enormeeeeee esforço financeiro que é editar um jogo. Sempre que for possível e pertinente, vamos usar esse formato.
É importante esclarecer que estas associações a marcas não dão apenas vantagens na produção dos jogos. Essas empresas dão contribuições muito válidas para o jogo ficar mais “rico” em detalhes e mais próximo da realidade. No caso do VINTAGE a colaboração com a Niepoort foi exemplar. Houve muito detalhes e facetas do jogo que foram contributos excelentes. Um exemplo: As “vinhas velhas” foi um pedido específico do Dirk Niepoort e é um elemento muito interessante e que reflecte muito bem a realidade.




Tem sido fácil para a Mesaboardgames aceder aos mercados, nomeadamente Europeu e Americano? Como tem sido a aceitação internacional dos jogos da Mesaboardgames?
Não. Acima de tudo é um processo lento. Chegar a esses mercados, encontrar distribuidores profissionais e competentes para sermos conhecidos e estarmos nas lojas não é uma tarefa fácil e exige muitos investimentos. Estar em Feiras internacionais, anúncios, enviar para críticos conceituados, são muitas das coisas que nos exigem bastante trabalho.
A pouco e pouco vamos sendo conhecidos e reconhecidos pelo nosso trabalho. Mas é uma tarefa longa e contínua.

A Mesaboardgames pondera associar-se a uma editora internacional para comercializar os seus jogos ou vai manter-se com a sua própria marca no mercado internacional?
Depende, de mercado para mercado. Se for vantajoso para todas as partes, não temos problemas em associarmos a outras editoras/distribuidoras.

O “Vintage” vai estar em ESSEN 2011?
Sim, claro. Vai ser o jogo “estrela” do nosso stand.




E como está o sonho de “Daqui a 5 anos queremos ser criadores/editores de referência a nível mundial e ganhar um SPIEL DES JAHRES”?
Está vivo : -)
É importante esclarecer que quando colocamos esse sonho no nosso site, ele tem um objectivo de nos estimular a procura de ser os melhores. Não é um objectivo em si. Isto é, não vamos entrar em depressão se não o alcançarmos. Mas sonhar ganhar um prémio com esse prestígio faz bem, pois obriga-nos a perceber como queremos ir para o mercado. E no fim de tudo, prefiro apontar para as estrelas e ficar na copa da árvore, do que me arrastar sempre com os olhos pelo chão.

Acredita que o “Vintage” tem argumentos para ser nomeado para o próximo “SPIEL DES JAHRES”?
Um jogo para ser nomeado para o “SPIEL DES JAHRES (neste caso de 2012) precisa de ser publicado/distribuído na Alemanha. Coisa que estar a ser, através da Heidelberger Spieleverlag. Mas daí as ser nomeado, vai um grande passo. Temos sempre grandes objectivos para os jogos que editamos. Mas somos realistas e humildes. Ainda temos muito que aprender.




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