Entrevista com Frank DiLorenzo


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Como nasceu a ideia que levou à criação do "Masters of Venice"?
Durante anos fui tendo ideias para jogos sobre economia, sempre na expectativa de fazer um jogo que se debruçasse, sobretudo, sobre bolsas. Um dia, encravado na ideia de como reproduzir a subida e descida de preços, avancei para um jogo sobre esse tema. Em menos de 24 horas já estava a testar o primeiro protótipo do «Venice». No primeiro esboço que fiz das diferentes áreas do tabuleiro coloquei um rio/canal entre elas, dai surgiu o nome do jogo.

Onde é que vai buscar as ideias para os seus jogos? Começa pela mecânica ou pelo tema?
Ambas. MOV resultou de uma ideia para uma mecânica sobre a volatilidade dos preços. Mas noutros jogos tudo foi criado directamente a partir do tema. Por exemplo, o Overthrone desenvolveu-se a partir de uma conversa onde se imaginava como seria fixe ter um jogo onde se tomasse o controlo dos tribunais franceses no tempo dos mosqueteiros. A dor de cabeça foi transformar um velho jogo de soletrar num jogo de tabuleiro.

Em que tipo de mecânica prefere focar o processo de desenvolvimento dos seus jogos?
Ironicamente, tento sempre fazer as coisas, o mais possível, simples e directas. Pode não parecer isso quando se vê o livro das regras do MOV, mas, uma vez jogado, percebe-se que não é assim tão complicado, é um jogo verdadeiramente reactivo, pois tudo gira á volta do tempo e das acções dos jogadores. Tento sempre que exista um certo grau de acaso nos meus jogos, mas o grosso dos jogos funcionam com mecânicas que estimulam acções e reacções, afectando os outros jogadores.

Quando é que se apercebeu que criar jogos era o seu sonho?
Comecei a criar jogos quando tinha 10 anos, sobretudo jogos de guerra. Durante anos fui fazendo, esporadicamente, alguns jogos até ao dia que criei um jogo de caça ao tesouro. Foram tantos os amigos que gostaram desse jogo que comecei a procurar publicá-lo. Depois de perder algum tempo sem chegar a lado nenhum, decidi criar a minha própria editora e começar a partir daí. Criar jogos é, sem dúvida, a parte mais divertida do meu dia-a-dia, mas não me posso esquecer que tenho uma empresa para gerir.

Que nível de sorte considera aceitável nos seus jogos?
Gosto de ter alguns pequenos elementos de sorte. Grande dependência da sorte num jogo não é comigo, não gosto mesmo nada de jogos exageradamente dependentes da sorte. Para mim, terá que haver estratégia, desafios e não apenas um jogador tirar uma carta e simplesmente morrer.

Em quantos jogos trabalha ao mesmo tempo? Trabalha em vários projectos em simultâneo ou dedica-se apenas a um único?
Tenho sempre muitas ideias a fervilhar ao mesmo tempo, mas apenas tenho tempo para me concentrar, de forma séria, num jogo de cada vez. Adoraria fazer mais, mas, no momento, não me é possível esticar o meu tempo.

O que é que pode dizer sobre o projecto em que trabalha actualmente? Pode revelar alguns detalhes do jogo em si?
Não, é altamente confidencial e secreto. Poderia adiantar alguns detalhes, mas depois seria obrigado a matar-vos. Na verdade, actualmente, não estou a trabalhar em nenhum projecto. Temos uma série de grandes jogos de outros autores que necessitam de toda a nossa atenção, pelo que o meu material terá que esperar.

Com que frequência joga ou testa um jogo antes da publicação?
Toneladas. Testamos o jogo até à morte. Depois ressuscitámo-lo e testamos novamente até à morte. É necessário verificar todas as possibilidades e é crucial localizar todas as falhas e problemas que não são visíveis à primeira vista.

Qual o jogo que levou mais tempo a desenvolver q qual o teve mais alterações?
Foi o Master of Venice. Alguns jogadores de teste disseram-me que gostavam mais da versão anterior. No entanto, não era bem assim. Recuamos 20 ou 30 iterações antes de me dar por satisfeito. Uma vez que ainda tenho prazer a jogá-lo, acho que fizemos algo de acertado.

Como se define a si próprio como criador de jogos?
Não estou certo de ser. Tenho tendência a ser aberto a tudo, pelo que não me vejo confinado a uma estrutura rígida. Se há algo que gosto de fazer é criar jogos que tentem colocar desafios, que obriguem a pensar em estratégias e, ao mesmo tempo, que sejam divertidos. Muitos dos meus jogos não são fáceis para principiantes jogarem com quem já os conhece bem, pois existe uma clara vantagem para quem já conhece as estratégias dos meus jogos.

A sua família e amigos participam na sua aventura de criação de um novo jogo?
Sim, para aqueles que gostam de jogos. Os meus jogos melhoram com a ajuda dos seus comentários e opiniões.

O desenvolvimento de um jogo envolve várias fases – criação, edição, testes e publicação – qual é a que mais lhe agrada? Porquê?
A criação é, sem dúvida nenhuma, a parte mais divertida. Ver um jogo a tomar forma a partir de novas ideias é a melhor parte. A edição é a parte mais enfadonha, independentemente de todo o trabalho que se possa fazer, há sempre algo que nos escapa. Mesmo com edição externa, continua a ser um problema. Testar pode ser divertido, mas pode ser entediante, pois é uma etapa intensiva. É divertido ver e aprender á medida que outros encontram falhas ou fazem sugestões para adicionar ao jogo. Publicar não é mau, mas exige muito trabalho. A parte interessante é ver um jogo ganhar vida às mãos da equipa de gráficos e ilustrações. Mas, sem sombra de dúvida, a parte mais odiosa é escrever as regras. Não é tarefa fácil escrever regras concisas e claras (especialmente para alguém verboso como eu).

Joga apenas de vez em quando ou os jogos são parte integrante do seu quotidiano?
Adoro jogar e frequentemente arranjo tempo para jogar uma vez por semana. Tenho cada vez menos tempo, que o que costumava ter, para isso, mas tento jogar o mais possível.

Com que frequência joga os seus jogos depois de serem publicados? Prefere jogar os seus ou os jogos de outros criadores?
Durante uns tempos, após a sua publicação, jogo os jogos muitas vezes, pois é novidade e toda a gente quer experimentar. Mas depois, quase sempre, perco o interesse. As excepções são o Masters of Venice, sempre tão diferente e de um género que me agrada, e o Overthrone que não deixa de ser um divertido jogo de cartas. No momento, estou sempre desejoso de jogar o Master of Venice apesar das triliões de vezes que tive que o testar.

Qual o jogo que mais gosta de jogar? Porquê?
Gosto de jogos que mexam com acções e temas económicos. Sou um empreendedor, pelo que tenho uma atracção natural por jogos que envolvam dinheiro e sistemas económicos. Gosto de jogos do tipo Acquire e Puerto Rico. Mas, também gosto de jogos que põem toda a gente a rir, como o Time´s Up. Sou um enorme bluff nos triviais (tenho um record de dúbia distinção no programa de TV “Quem quer ser milionário), mas gosto de jogos tipo trivial (com aquela notável excepção). Gosto, pontualmente, de jogos de guerra, em particular o Richard Borg’s Battlecry e o Diplomacy. Sou um grande fã do Werewolf. No fundo, qualquer que seja o jogo, há que jogá-lo.

Qual o seu jogo favorito?
Fu Manchu's Hidden Hoard. O meu favorito da infância que tem um especial sabor. E, juntamente com aquele, talvez o Acquire.

Qual o tipo de jogo que mais gosta?
Depende da disposição e das pessoas com quem estiver. Estou aberto a todo o tipo de jogos e jogo qualquer coisa.

Que prefere: jogar ou criar jogos?
Ambos.

Vai apresentar o “Master of Venice” em Essen?
Não tenho a certeza. De facto, ainda não tenho planos para isso, mas é um acontecimento onde se encaixaria. Além do mais, já faz algum tempo que não vou a Essen, pelo que seria a desculpa ideal para ir lá.

Acha que as vendas são o factor determinante para que um jogo seja bom ou não?
É uma pergunta difícil. O núcleo duro dos jogadores é muito exigente no que toca a classificar um jogo como bom. Se um jogo vende bem, poderá considerar-se que agradou e, consequentemente, poderá ser classificado como um bom jogo. Mas pode acontecer que um bom jogo, mas com pouco marketing, se perca no oceano dos jogos e passe despercebido. Já encontrei pequenos jogos que eram muito bons, mas que, em termos de vendas, seriam classificados como péssimos.

Segue, com especial atenção, algum criador de jogos?
Assumidamente. Gosto do que o Martin Wallece está a fazer, grandes jogos saem dali. Também gosto de outros, mas dos 10 jogos que joguei nas últimas 4 semanas, 7 eram dele e 1 era meu.

Será que os jogos de tabuleiro podem ser usados para fins educativos?
Certamente, sem qualquer dúvida. São óptimos para ensinar civismo, matemática, vocabulário, soletrar, história, solução de problemas, etc. É uma lista é infindável. Será que todos os jogos são educativos? Claro que não, mas muitos deveriam ser usados como tal.

Tem outro emprego, ou é um criador de jogos a tempo inteiro?
Sou um editor a tempo inteiro e, secundariamente, um criador de jogos.

Que pensa da actual crise económica? Irá afectar a venda de jogos?
Em certa medida, diria que sim. Mas, na realidade, o que se viu foi aumento de vendas em muitos sectores. Viram-se mudanças e o encerramento de muitas empresas. Mas, de uma forma geral, parece que os brinquedos e os jogos estão a ultrapassar a crise.

Quando é que começou a história da R&R Games? Qual o público-alvo para os jogos da R&R? Fale-nos da sua empresa.
Fundei a R&R Games em 1996, durante a minha aventura para tentar publicar o meu primeiro jogo, Riddles & Riches. Era um jogo de caça ao tesouro que nasceu da minha paixão por criar caças ao tesouro ao vivo (coisa que ainda faço como parte da R&R). O jogo foi muito bem recebido, pelo que, à medida que nos expandíamos lentamente, comecei a juntar mais criações minhas. Começámos a ter criações exteriores em 1999 e a empresa explodiu. A nossa atenção principal são os jogos de sociedade (como o Time’s Up, Smarty Party, etc.) e os jogos de família (Pigpile, Flea Circus, etc.) Jogos que são simples e que fazem rir as pessoas. Jogos que pode compartilhar com toda a família. Em 2005, um brinquedo/jogo para crianças, Hide & Sieek Safari, ganhou o “Toy of the year” no testes de brinquedos do programa de televisão “Today Show” e da revista “Parenting”. Tornou-se num dos nossos produtos mais vendidos de sempre. Este ano, devemos retomar o mercado do hobby/jogos com o “Masters Of Venice. Tentamos fazer um variedade alargada de jogos, esperemos que únicos e divertidos para todos.

Que tipo jogos costuma editar?
Todos os jogos da nossa linha. Na edição verifico todos os componentes, desde as regras à caixa.

Que conhece de Portugal? Já esteve em Portugal?
Geograficamente sei que fica ao lado da Espanha e tem a sua própria língua. Conheço parte da sua historie e sei qual a capital. É um bom centro diplomático. Para além disso, conheço muito pouco, pois nunca estive em Portugal. Consta-se que é bonito, pelo que gostaria muito de visitar um dia, pois gosto de viajar, conhecer novas gentes e ver novos lugares.

Muito obrigado!
Obrigado pela entrevista.


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Frank DiLorenzo BGG
Masters of Venice

A tradução desta entrevista teve o patrocínio de:



4 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pela grande entrevista.

Tiago
Algarve

Unknown disse...

Olá, achei muito bom o blog e tem tudo a ver com a nossa empresa que está relacionada com jogos de tabuleiros e gostaria que conhecesse nosso site http://www.redeplayers.com.br, afinal, nossa rede de jogos é voltada para o tabuleiro entre outros, com o principal objetivo de alavancar o número de jogadores da cidade de São Paulo, atualmente vai ser implatado esse projeto em um único restaurante da capital, maiores informações no nosso blog! Aguardo seu retorno!

Joana disse...

Mais uma excelente entrevista e o jogo parecer ser interessante. Faz fiz o download das regras!

Anónimo disse...

muito legal...
parabéns pelo blog...