Entrevista com António Marcelo



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António Marcelo

Como nasceu a ideia que levou à criação do “Galaxia S.A.”?
O rascunho do Galáxia surgiu numa ideia de entrar num concurso (nem me lembro qual foi agora). Falei com o Flávio (Flávio Jandorno) para participarmos e começamos a desenvolver o jogo. O projecto mudou tanto de rumo que não mais pensamos em participar do concurso e sim arriscarmos o jogo comercialmente. Ficamos quase 2 anos em idas e vindas até que o projecto ficou meio de lado, frente a outros projectos que surgiram. De repente surgiu a oportunidade de apresentá-lo e finalmente fechamos um contrato de publicação no Brasil com a Tóia Brinquedos . Nesse meio termo que o jogo ficou em descanso, aproveitamos e testamos novas regras. O jogo ganhou uma nova arte, com o talentoso artista brasileiro Marcelo Bissoli (na realidade retomamos um contacto feito na RPGCON de 2009, um evento de RPG aqui no Brasil), e estamos agora com o Galáxia SA.

Como define o “Galaxia S.A.”?
Um cardgame económico que tem uma temática espacial (adoro ficção científica) e que reúne diversas mecânicas que conseguimos na nossa opinião, concatenar muito bem. Exige raciocínio, uma boa estratégia e é um jogo que não é difícil de aprender, Acho que as pessoas irão se divertir bastante a mesa.

Qual é a data prevista para o lançamento do jogo na Europa?
De acordo dom nossa editora na Europa, a Runadrake, a previsão inicial é em ESSEN 2011.

Onde é que vai buscar as ideias para os seus jogos? Começa pela mecânica ou pelo tema?
Minhas ideias vem de todo o lugar : livros, quadrinhos, filmes, documentários e boas conversas com os amigos. Normalmente eu e o Flávio começamos pelo tema, e depois vamos trabalhando em mecânicas que achamos adequadas ao mesmo. Neste ponto temos um trabalho de profunda reflexão e testes sobre o que estamos fazendo, para evitarmos qualquer tipo de problema ou criarmos um “frankstein” de tabuleiro.

Em que tipo de mecânica prefere focar o processo de desenvolvimento dos seus jogos?
Não existe um foco, cada caso é um caso em nossos produtos. Existe na realidade um “estudo” do público que queremos atingir para podermos fazer um produto que agrade o mesmo. Acho que quando pensamos num jogo, vem logo a cabeça a imagem de pessoas tendo a experiência de jogar nossos jogos. Nós tentamos “enxergar com os olhos do jogador” e reproduzir exactamente o que eles irão sentir em uma partida. Tem funcionado muito bem até agora.

O desenvolvimento de um jogo envolve várias fases – criação, edição, testes e publicação – qual é a que mais lhe agrada? Porquê?
Criação e testes (apesar que estamos envolvidos em todas as fases). Neste momento estamos no máximo de nosso trabalho criativo, ou seja o 1% de inspiração. Os testes são muito importantes pois os contactos que temos com os jogadores são muito preciosos. O resto é trabalho duro de quebrar pedras, os famosos 99% de transpiração de muitos projectos.

Que nível de sorte considera aceitável nos seus jogos?
Não gosto de jogos onde a sorte seja um factor preponderante (caos total), ou então o que chamo de jogo “laboratório” do qual não existe sorte alguma. Gosto de uma coisa muito equilibrada, onde a sorte é mais um factor de jogo, não sua base. A sorte não irá definir um vencedor, mas irá auxiliar num determinado momento aquele que está realmente jogado bem. Isto para mim é uma coisa que me faz jogar sempre um mesmo jogo.

Como se define a si próprio como criador de jogos?
Nossa uma pergunta que ninguém nunca me fez. Desde que eu me entendo por gente sempre gostei de criar jogos, inicialmente para mim e depois para as pessoas. Adoro o que faço, acho é uma das paixões de minha vida. Se eu não fosse game designer, acho que seria uma pessoa muito frustrada.
Hoje estou feliz pois eu e o Flávio estamos entrando no selecto clube de “autores publicados” e esperamos que o público goste de nosso trabalho. Para definir numa frase : apaixonado pelo que faço.

A sua família e amigos participam na sua aventura de criação de um novo jogo?
Tanto a família como os amigos. Suzana, minha esposa, não é jogadora de boardgames (ela adora videogames e jogos online), mas ela me apoia e dá dicas muito interessantes sobre certas coisas, além de críticas certeiras em pontos que me passam muitas vezes despercebidos. Meus amigos são sem sombra de dúvida outro factor muito importante no processo, pois na sua maioria possuem uma cultura lúdica muito vasta e dão dicas preciosas em muitos de nossos playtestes (desde setups de jogo e até melhorias na jogabilidade). Acho que esta combinação faz com que as coisas aconteçam. É uma química perfeita.

Joga apenas de vez em quando ou os jogos são parte integrante do seu quotidiano?
Os jogos fazem parte de meu quotidiano, não só como designer, mas academicamente. Trabalho numa escola técnica aqui no Brasil, onde ensino Cultura de Jogos, Game Design e Desenvolvimento de jogos analógicos. Também estou realizando diversas pesquisas académicas na área e pretendo orientar me futuro mestrado na área de lúdico e educação. Eu basicamente vivo e respiro jogos(rs).
Mas ultimamente tenho jogado pouco, pois o processo de criação tem realmente consumido muito tempo. Hoje jogo em dois encontros mensais que temos aqui no Rio de Janeiro, para conhecer as novidades e encontrar os amigos. Este contacto mesmo que menor agora, me é muito precioso, pois sempre acaba vindo alguma ideia na mesa.

Qual o seu jogo favorito? Qual o tipo de jogo que mais gosta?
Bom em termos de Eurogames, tenho como uma referência o Power Grid do Friese, acho um jogo elegante ao extremo. Em termos de Wargames (dos quais são uma das minhas raízes em termos de jogador), continuo achando o Squad Leader da antiga Avalon Hill, um dos meus jogos preferidos. E não posso esquecer de um dos jogos que em ocasiões especiais sempre está na minha mesa da sala : o Twilight Imperium 3.

Gosto actualmente de jogos de gerenciamento de recursos/economia, bem estratégicos, com factor sorte reduzido e com um bom contexto histórico. São jogos que me ajudam em muito no processo de criação e acabam me dando uma satisfação enorme numa mesa de jogo. Também gosto de um bom wargame das antigas SPI e Avalon Hill, que alimentam o meu espírito Grognard .

Que prefere: jogar ou criar jogos?
Como disse anteriormente nosso tempo anda curto (eu e Flávio estamos trabalhando em mais dois jogos nossos que serão lançados no Brasil, na feira de Brinquedos Abrin em Abril deste ano), eu particularmente tenho jogado menos. Adoro jogar e criar, ambas actividades se complementam, mas como cada vez mais a actividade de criação vem me envolvendo, o tempo de jogar ficou muito reduzido.

Segue, com especial atenção, algum criador de jogos?
Recentemente eu ando acompanhando o Pierluca Zizzi (Criador do Caligula), um autor que me agradou e virei seu fã. Descobri que ele tem um jogo chamado La Difesa de Agarthi, do qual fiquei curioso, por se tratar de um de seus primeiros. Mas claro que sempre que posso dou uma olhada nos “clássicos”: jogos do Friedemann Friese, bem como o Stefan Feld e do Martin Wallace.

Agora queria pedir permissão só para falar que também acompanho uma companhia de jogos, que sou fã (peço mil desculpas ao meu editor Europeu, mas é o lado jogador falando neste momento...) : a Queen Games.

Eu adoro os jogos da Queen e os autores publicados por esta empresa. Não existe até hoje um jogo que eu tenha comprado ou jogado, do qual não tenha gostado. É uma empresa que realmente tenho uma admiração profunda e estou sempre olhando as novidades.

Tem outro emprego, ou é um criador de jogos a tempo inteiro?
Além de criar jogos como disse antes sou professor de... jogos ! Eu lecciono no Núcleo Avançado de Ensino (Nave) aqui no Rio de Janeiro, uma escola técnica estadual que forma adolescentes em três cursos distintos: programação de jogos, multimídia e roteiro para mídias digitais. Tenho a oportunidade de estar sempre com os mais jovens e dar uma visão bem profissional sobre o assunto em sala de aula.

Quando é que se apercebeu que criar jogos era o seu sonho?
Desde pequeno sempre gostei de jogar e criar coisas novas para os jogos que eu jogava. Sempre tive uma paixão enorme por escrever/criar e vi que os jogos poderiam proporcionar isso. Descobri que este era o caminho que queria seguir e hoje estou conseguindo trilhá-lo!

Obrigado pela entrevista.
Queria agradecer por esta oportunidade de estar falando aqui para vocês! Espero que em breve o Galáxia SA esteja em suas mesas de jogo!




Galaxia S.A
Designer: Flavio Jandorno - Antonio Marcelo
Artist: Marcelo Bissoli
Publisher: Brinquedos Toia - Riachuelo Games



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